Em uma hora e 15 minutos de interrogatório, Edison Brittes falou tudo o que viveu na manhã do dia 27 de outubro de 2018.
Com riqueza de detalhes contou como matou o jogador Daniel e as suas razões para o crime.Confira o depoimento completo de Edison Brittes:Edison começou contando que Cristiana saiu de Foz do Iguaçu para a grande Curitiba para tentar uma vida melhor com os pais. Ela estudava perto de onde ele morava, em 1998, quando ela tinha 15 anos e ele 17 anos.
“Essa é a parte da vida que a gente chama felicidade”, disse Edison sobre o casamento. Allana foi a primeira neta dos dois lados, veio num momento mágico”, expressou ele. Os dois casaram em maio e a Allana nasceu em outubro. “Feliz de ser pai e de constituir uma família do lado da mulher que eu escolhi pra mim”, falou o réu. “Minha Amanda é maravilhosa, nasceu em 2007.
A gente conseguiu se preparar pra ter ela. A gente decidiu que queria ter mais um bebê”, disse Edison sobre a segunda filha do casal.Quanto ao dia que antecedeu o crime, Edison afirmou que realizou a festa para fazer a vontade da filha. “A gente optou por realizar o desejo dela de fazer a festa (de 18 anos, que antecedeu o assassinato) na Shed (…). Desde que as minhas filhas nasceram, a minha maior alegria como pai era fazer todos os aniversários delas”.
Segundo o assassino confesso, no dia do aniversário de 17 anos de Allana, em uma chácara, um menino relatou para ele que Emanuely, amiga da Allana, foi encontrada com o vestido erguido. Neste momento um dos jovens da festa teria contado que um cara fez isso com ela. Ainda segundo Edison, pessoas disseram que foi o Daniel. O réu também afirmou que Allana nunca namorou a vítima do assassinato e que o primeiro namorado dela foi o David, com quem é casada hoje.Quanto ao dia do crime, Edison também afirmou que ficou sabendo que Daniel teria passado a mão em uma menina na saída da Shed. Os amigos dela não gostaram e foram pra cima dele. A segurança interveio e segurou os meninos. Quando voltaram da festa para casa, Edison dirigia e Cristiana Brittes estava na frente, enquanto Allana, David, Eduardo e Thays no banco traseiro.
“A gente chegou, ligaram música, dançaram. A Cristiana estava com fome. Fritei um ovo, dei pra ela comer. Ela comeu no sofá e coloquei ela na cama. A Allana vestiu um shorts da mãe. Daniel chegou uns 40 minutos depois que ela já estava dormindo. Allana foi quem pediu o after. O Daniel não foi convidado”, afirmou Edison.Segundo o réu, Daniel entrou na casa. Allana queria dormir e a vítima perguntou se tinha vodka, porém só tinha whisky e cerveja. Daniel teria pedido para Edison comprar no mercado e o anfitrião teria ido com David.Edison relatou que eram 8h da manhã quando retornou, colocou as bebidas na mesa, serviu e deu na mão de todo mundo. Foi então que teria percebido que o Daniel não estava ali. “Eu não imaginava o que tava acontecendo, não sabia onde ele tava”, disse o empresário.O réu afirmou que estava trocando as músicas na caixa de som quando ouviu um grito abafado. Sentiu que era de dentro de casa. Na segunda vez, escutou mais nítido: “Socorro”. “Não sabia de que parte da casa estava vindo”, disse.“Entrei dentro de casa. Um dos irmãos ouviu e entrou comigo. Cheguei na porta do quarto e vi que estava fechada. Mas a Cris não fecha a porta pra dormir, eu deixei ela aqui dormindo e a porta não tava fechada. Dei a volta e fui na janela do quarto. Eu abri a janela. O (Eduardo) Purkote tava atrás de mim. Quando eu puxei o blackout, eu vi ele em cima dela. Passei a perna e já fui em cima dele pra tirar ele de cima dela. Ele tava de cueca, de camiseta, com o pênis pra fora. Eu só queria ajudar ela. Tirar esse abusador de cima dela. Só queria proteger ela. Era cessar aquilo ali. Era só o que eu conseguia pensar. Quando eu vi o pênis dele pra fora eu fiquei louco, fiquei possesso, fiquei cego”, relatou Brittes.
“Eu me lembro perfeitamente. Joguei ele pro lado e já comecei a bater. Nisso a Cris foi tentar chutar ele e caiu da cama”, disse, contradizendo Cristina Brittes, que afirmou que não encostou em Daniel.“Quando a Cris caiu da cama ela levantou e pulou a janela. Só sei que estouraram a porta e eu não consegui ver quem foi. Alguns entraram pela janela, outros pela porta, não sei quem. Tirei ele dali e levei pra parte de fora. Várias pessoas pediram para eu parar de bater. A Cris falava a todo momento ‘para não faz isso’. Ela tava no sofá chorando com duas meninas. Em nenhum momento a Cris incentivou as agressões”, afirmou o marido.
“Comi a coroa”
Edison relatou no depoimento que Daniel foi colocado no porta malas do carro. Pegou as coisas dele e levou junto. “Eu só queria deixar ele do jeito que ele tava pra ele passar vergonha no meio da rua. Desde o começo a minha intenção era essa. Eu tava indo na BR, peguei o telefone dele e vi tudo o que ele tinha feito. Vi as fotos, os áudios. Eu fiquei louco, enfurecido, cego, com raiva. Naqueles áudios e mensagens ele falava ‘comi a coroa’. O outro perguntou ‘comeu dormindo ou acordou?’. Eu já tava passado com a primeira situação. Depois que vi as fotos, áudios, mensagens, foi muito pior”, disse Edison, afirmando que ouviu muito mais coisas.Nesse momento, o áudio foi colocado em plenário para que todos ouvissem. E Edison afirmou que ouviu muito mais coisas. O réu pediu ainda para ressaltar a parte que Daniel teria escrito que ‘comeu a coroa’.
Em seguida, Brittes explicou o que fez com Daniel. “Tava na BR-277. Pensei em largar ele lá no pedágio pra de voltar pelado de lá. Quando eu vi o telefone, entrei à direita sem rumo. Peguei uma estrada de chão”, afirmou.“Sim, eu peguei e emasculei ele”
“Eu não sabia que isso existia. Chama teto preto. Eu não consegui ver mais nada. Eu tava nervoso, tremendo, boca secou. Fiquei cego. Não sabia onde eu tava. Nunca andei naquela região. Tava muito louco. Andei até um determinado lugar, parei o carro, desci, abri o porta malas e aconteceu tudo”, disse o réu, começando a falar sobre o homicídio“Depois do acontecido eu arrastei ele tirando da estrada. Na hora que eu desci do carro eu não vi nada. Meu foco era o abusador. Não sei se os meninos desceram do carro na hora. Eu fiz isso sozinho. Peguei pelos braços e arrastei ele. Tirando da estrada. Eu tava muito transtornado, pensava nas mensagens, remoía tudo dentro de mim. Eu me lembrava dele falando que comeu ela. Sim, eu peguei e emasculei ele. Fui na direção do carro e joguei a parte dele. Quando eu joguei o órgão dele eu vi que um dos meninos estava na frente do carro vomitando. Era o meu genro David”, afirmou Edison Brittes.Torturado na cadeia
Edison está preso há 5 anos e 6 meses. Ele disse durante o julgamento que foi torturado na cadeia com choques, afogamento e ‘cacete’ nas costas. Ele também afirmou que só conseguiu ver as filhas em três ocasiões desde a prisão.Questionado pelos jurados se havia se arrependido pelo crime, Edison respondeu: “Me arrependo sim. Mas a situação dos fatos que levaram a isso não foram feitas por mim. Não mexi com a mulher de ninguém. Eu estava na minha casa. Quem criou tudo o que aconteceu foi o Daniel. Se ele tivesse respeitado as pessoas, a mulher, o ambiente, nada disso teria acontecido. Nós teríamos festado e cada um teria ido pra sua casa”, afirmou Brittes.
Quando foi indagado sobre o que faria se pudesse ter uma segunda chance, o réu respondeu: “Se eu pudesse voltar lá atrás eu faria diferente. Quando outro animal vai atacar o filhote de uma onça, ela vai proteger o filhote dela. Eu fui defender a minha família. Se precisasse entrar na frente de uma bala pra defender a minha família eu entrava. Fui defender uma mulher em situação de vulnerabilidade”, afirmou.
Por último, os jurados perguntaram se ele obrigou Evelyn a limpar o sangue da casa e se ameaçou outra jovem a mudar o depoimento. Edison respondeu que não às duas perguntas, mas afirmando, no caso de Evelyn, que não queria falar sobre aquele assunto. Ainda afirmou que a faca que usou para emascular e matar Daniel costumava ficar no carro.
Veja primeiros passos do júri do Caso Daniel
O júri do caso Daniel teve início por volta das 8h56 desta segunda-feira (18), no Fórum de São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. Quatro dos sete réus envolvidos estiveram presentes na abertura da sessão do juiz Thiago Flores Carvalho: Edison Brittes, Eduardo Henrique Ribeiro da Silva, Igor King e Evellyn Brisola Perusso. Os outros três réus não apareceram no tribunal durante a manhã: Cristiana Brittes, Allana Brittes e David Willian Vollero.Logo no início da sessão, equipes de advogados da defesa dos réus e também da acusação fizeram alguns pedidos à promotoria. Na sequência, por volta das 10h21, foi realizado o sorteio dos jurados.Foram selecionadas 160 pessoas, sendo que sete foram convocadas pelo Conselho de Sentença.
Os responsáveis por definir pela condenação ou absolvição dos sete réu são:
quatro mulheres e três homens:
4 mulheres jovens
1 homem idoso
1 homem jovem
1 homem meia-idade
Defesa dos réus pede mais tempo para os debates no júri do Caso Daniel
Para a realização dos debates, os advogados de defesa dos sete réus terão 2h30, o mesmo tempo que a equipe de acusação. Entretanto, logo no início da sessão, os representantes dos réus solicitaram mais tempo, no mínimo uma hora, pois cada um ficaria com pouco mais de 20 minutos.
Em análise do pedido, a promotoria não acatou a solicitação, pois ainda existe um tempo para réplica e tréplica. O juiz afirmou que o tempo em excesso levaria à exaustão, o que dificultaria a absorção do conteúdo pelos jurados. Justificou ainda que a acusação terá 2h30 para comentar sobre os sete réus.
Os advogados de Evellyn Brisola e Eduardo Henrique Ribeiro da Silva fizeram pedidos específicos no início da sessão. Os representantes solicitaram que a promotoria não fizesse menção ao histórico criminal dos réus. Ambos foram presos durante o julgamento do caso Daniel por outros crimes.Entretanto, a promotoria alegou que os históricos criminais são necessários para mostrar “o ambiente em que a vítima foi inserida” e pediu que fossem mantidos.
A defesa de Evellyn ainda pediu para que a ré permanecesse com o celular durante o júri, pois está com um filho de seis meses em casa, e outro de oito anos.Por volta das 11h, teve início o depoimento de quatro testemunhas, mantidas em sigilo. A imprensa foi convidada a se retirar do tribunal para as oitivas.Depois de encerradas as oitivas sigilosas, mais testemunhas foram ouvidas. Entre elas Antônio Ribeiro de Araújo. Ele falo usobre Edison Brittes, contanto que o apelido de “Juninho Riqueza” veio porque o Edson ajudava muito as pessoas. Afirmou ainda que desconhece qualquer ligação da família Brittes com a criminalidade.
“Pra nós da comunidade foi um choque quando saiu a notícia. Nunca tive ele como uma pessoa do mal”.Depois de Antônio foi a vez de Polini Mattos Dornellas, amiga de Allana Brittes. Ela conta que Allana trabalhava com os pais e que Cristiana Brittes era uma mãe bem querida. Ela esteve na festa de aniversário na Shed, mas não no “after”, na casa dos Brittes. Ela afirma que nem viu Daniel na festa e negou que Cristiana estivesse se envolvendo com outros homens.
Depois dela,Thays Maria Farias prestou depoimento por videoconferência. Thays é muito amiga de Allana, cresceram juntas, mas hoje vive em Foz do Iguaçu. Porém se esforça para ir aos aniversários da amiga todos os anos. Disse que passou muitas férias na casa de Allana. Que o Edison Brittes sempre foi receptivo, fazia as comidas que ela gostava de comer. Cristiana sempre foi muito querida. E que conheceu Daniel pela primeira vez no aniversário de 18 anos de Allana e que não teve boa impressão dele, pois mesmo ela estando com namorado, Daniel teria tentado flertar com ela. Disse que Allana não queria um after. Mas como todos insistiram, acabaram indo para a casa dela.
Thays foi a primeira pessoa que viu Daniel no quarto de Cristiana. Ela foi ao quarto do casal usar o banheiro, porque o outro estava ocupado, quando Daniel entrou. Cristiana Brittes dormia. Ela insistiu que Daniel usasse logo o banheiro depois dela e que saísse, pois tanto ela quanto Cristiana eram comprometidas. Thays saiu e foi para o quarto dormir. Acordou minutos depois com Cristiana gritando socorro.
Acompanhe o segundo dia de audiência