Movimentos ligados à direita ainda não decidiram se atacam o Congresso e o STF ou se defendem Bolsonaro.
A discussão entre usuários de direita no Twitter sobre as manifestações marcadas para 15 de março em apoio a Jair Bolsonaro está dividida: parte das mensagens mais retuitadas ataca os outros Poderes (Congresso e Supremo), parte é de simples defesa do presidente da República.
A análise foi feita por meio do GPS Ideológico, ferramenta da Folha que categorizou 1,7 milhão de contas, posicionando os perfis numa reta, do ponto mais à direita ao mais à esquerda, dependendo de quem cada usuário segue.
Para a análise da discussão sobre os atos de 15 de março, a reportagem coletou todos os tuítes a partir do dia 17 deste mês que continham menção às manifestações.
O evento tinha característica de crítica ao Congresso, sob a alegação de que os parlamentares estão boicotando ações do Executivo.
A discussão sobre a manifestação ganhou força após o jornal O Estado de S. Paulo revelar na última terça-feira (25) que Bolsonaro havia compartilhado no WhatsApp mensagem de apoio ao ato, que foi interpretado como endosso ao ataque ao Legislativo.
Nos oito dias anteriores à reportagem, houve 95 mil usuários tuitando sobre os atos. Após a publicação da notícia, foram necessárias apenas 17 horas para se chegar ao mesmo montante novamente.
O rápido crescimento na discussão sobre os atos também foi captado pela FGV-Dapp (Diretoria de Análise de Políticas Públicas). O monitoramento da faculdade apontou crescimento de 550% nas menções aos atos em apenas 48 horas após a reportagem.
Houve rápida reação, vinda, por exemplo, do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que apontaram ameaça à democracia.
Parte dos usuários de direita no Twitter passou então a sustentar que os atos, anteriormente contra o Congresso, eram de defesa do governo, não de ataque ao Legislativo.
A reação do presidente Bolsonaro foi dúbia. Em live no Facebook, ele negou que tenha incitado a população a ir às ruas contra o Congresso.
Mas o presidente também reclamou que há propostas suas paradas no Congresso, como o projeto que prevê a perda da carteira de motorista apenas após 40 pontos (atualmente, são 20 pontos).
Essa ambiguidade também se reflete na discussão na rede social sobre as manifestações.
A reportagem analisou as cem mensagens que foram mais retuitadas entre os usuários de direita (grupo que domina as discussões; há poucas menções sobre os atos no centro e na esquerda).
Foram 35 mensagens com críticas aos outros Poderes (Congresso e Supremo, especialmente) e 32 em que havia apenas a defesa do presidente.
Entre os tuítes com críticas aos outros Poderes, o mais retuitado dentro da direita foi um do especialista em investimentos Leandro Ruschel (3,8 mil compartilhamentos).
A postagem diz: “Quem é contra manifestações no dia 15? Rodrigo Maia, deputados do centrão, ministros do STF, partidos de esquerda, extrema imprensa, OAB; precisa dizer mais alguma coisa?”.
Foram incluídas nessa categoria mensagens que tinham apoio a Bolsonaro, mas que também continham críticas aos outros Poderes.
Já no grupo de apoio “puro” ao presidente, a mensagem que mais circulou foi de um perfil chamado “brasileirinhos” (3,6 mil compartilhamentos). O tuíte fazia uma enquete perguntando “você vai na manifestação de 15/3 em apoio ao governo Bolsonaro?”. O “sim” teve 86% dos votos.
A categorização dos tuítes em grupos foi feita pela Folha. Em terceiro ficaram as críticas à imprensa e à oposição (em geral, os usuários de direita veem a mídia como adversária do governo).
Foram 25 tuítes nessa categoria, entre os 100 mais retuitados. A maioria foi crítica à jornalista Vera Magalhães, que revelou a informação sobre o compartilhamento de Bolsonaro no WhatsApp.
Os cem tuítes analisados foram retuitados 96 mil vezes.
A relação entre o atual governo federal e o Congresso é tensa desde o início do mandato. Analistas apontam que o presidente não tem feito esforços para conseguir maioria no Legislativo e, assim, aprovar suas propostas.
A grande medida no Congresso do ano passado, a reforma da Previdência, foi capitaneada por Rodrigo Maia. Neste ano, membros do governo reclamam que o Legislativo tem interferido demasiadamente na elaboração do Orçamento para 2020.