Aos oito anos de idade, o então menino Laurence Tataren já percorria as ruas de Guarapuava, na região centro-sul do Paraná, com alguns pacotes de pães caseiros sob os braços para vendê-los e ajudar a família a pagar o aluguel da casa em que viviam. Trinta e dois anos mais tarde, agora aos 40 anos, o morador de São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, possui o título de CEO de uma empresa do ramo de transportes que fatura milhões de reais todos os anos. São 56 mil motoristas cadastrados e nenhum caminhão no pátio da empresa.
Tataren dirige, hoje, a THX Log, empresa criada por ele em 2010 com o objetivo de conectar motoristas autônomos e transportadoras baseado na economia compartilhada, ou seja, na divisão do uso de recursos. O empresário foi personagem do programa “Um negócio que deu certo”, apresentado pelo jornalista Antônio Nascimento.
“Eu sou filho de pais separados e minha mãe já morava em Curitiba, enquanto eu estava em Guarapuava. Quem mora no interior sabe como as coisas funcionam: quem é rico, geralmente fica mais rico. Quem é pobre, dificilmente consegue mudar aquela realidade. Certo dia, perguntei para um tio que havia ascendido na vida o que eu poderia fazer para ter mais sucesso”, iniciou Tataren.
A resposta do tio, porém, foi o suficiente para literalmente transformar a vida daquele jovem que sonhava em mudar a realidade que vivia. “Ele falou que a primeira coisa que eu deveria fazer era vir para a capital”, respondeu o tio. Em 2000, aos 17 anos, o então adolescente tomou a decisão que atualmente ele chama de “assertiva”. Cerca de quatro anos depois, deu o primeiro passo.
“Em 2000, fui trabalhar em um posto de gasolina como frentista. Consegui me destacar e fui convidado pelo diretor de uma multinacional para ir trabalhar numa indústria. Fui para lá e quando já estava crescendo, fazendo faculdade de engenharia, sofri um rompimento no ligamento do tornozelo e fiquei parado por uns dias”, prosseguiu o empresário que se diz “apaixonado pelo setor da logística”.
À época, Laurence precisou se afastar do trabalho devido ao acidente sofrido e, por certo tempo, se viu impedido de retornar. “Na época, o INSS entrou em greve e não pude voltar a trabalhar. Resolvi, então, fazer um bico como agenciador de cargas e me apaixonei. Quando consegui fazer a vistoria no INSS, pedi demissão da indústria para arriscar como autônomo.”
A ideia de se arriscar deu certo. Em 2004, o paranaense se tornou proprietário de uma agência de cargas e dois anos mais tarde fechou parceria com uma transportadora de Londrina, no norte do Estado, para vender fretes. “Eu fazia a conexão entre os motoristas e as transportadoras. Por exemplo, a transportadora tinha demanda, mas não tinha caminhões para todas as cargas. Basicamente, eu arrumava caminhões para elas”, explicou.
Em 2010, após se descobrir vendedor, abriu a THX Log, que atualmente possui sede em São José dos Pinhais. Três anos depois, o empresário, contudo, viu a possibilidade de falir bater à porta. “Praticamente quebrei em 2013 porque descobri que desse lado da mesa o jogo é outro. Não é porque você sabe fazer bolo que vai poder ter uma confeitaria”, acrescentou.
A chave para o sucesso e a ascensão tão almejada, diz ele, foi “buscar conhecimento” e entender quais habilidades deveria desenvolver para ser um empreendedor brilhante. Não é à toa que ele lê pelo menos 25 livros ao ano. “Hoje, tenho convicção de que a grande ambição de um CEO de uma empresa é montar, engajar e treinar o time. É focar em pessoas. No final das contas, não adianta colocar uma meta e buscar um resultado se não tiver um time adequado para o produto que eu quero entregar”, garantiu.
Em 2017, cerca de sete anos depois de abrir a THX Log, a empresa já contava com 11 caminhões, barracão, 38 colaboradores e faturava aproximadamente R$ 20 milhões ao ano. “Mudei para o formato de economia compartilhada em 2017, que é basicamente parecido com o que a Uber, o iFood e o Airbnb fazem.”
Ao explicar como a THX Log funciona, Laurence explicou que percebeu a existência de muitos caminhões vazios cruzando o país. “Muitos motoristas chegavam em uma cidade e não sabiam nem onde procurar carga para retornar para suas cidades. Isso gerava um custo muito grande. Comecei, através da tecnologia e busca de dados, conectar esses pontos. Em 2022, nós carregamos 22.504 cargas para distribuir entre 21 estados, com 45 colaboradores e sem ter nem uma Fiorino, só caminhões de terceiros. Toda essa carga foi dividida em 4,2 mil caminhões”, resumiu.
Nos últimos três anos, apesar da pandemia de Covid-19, Laurence viu sua empresa crescer três vezes mais em termos de faturamento e fechando negócio com empresas como Coca-Cola, Klabin e o Grupo 3corações.
“Tenho uma base de dados com 56 mil motoristas, onde olho para a região onde tem a carga que a indústria precisa, procuro o perfil de caminhão para fazer o transporte e vou buscar. Ali, tenho dois modelos de parceiros: o motorista autônomo e as empresas que antes rodavam vazias, mas agora tentamos dar produtividade a elas.”
Questionado sobre qual dica daria para quem pretende ingressar na área de empreendedorismo, Laurence usou o termo “lifelong learning” (formação contínua, em tradução livre), expressão que representa o conceito de que “nunca é cedo ou tarde demais para aprender”.
“Não é porque você concluiu uma faculdade ou pós-graduação que está tranquilo pelo resto da vida. Você vai precisar estudar a vida toda, sim. Hoje, tenho 40 anos, e sou uma das pessoas que mais estuda na minha empresa porque sei que o CEO que a THX precisa para daqui dois anos, estou longe de ser ele. Preciso buscar esse conhecimento.“