Diferente dos Estados Unidos, onde a poupança das famílias norte-americanas é realizada basicamente em ações, ser sócio de grandes empresas nunca fez parte da cultura de investimentos do brasileiro. Entretanto, nos últimos anos, presenciamos um grande movimento de migração de investidores para bolsa de valores interna.
De acordo com Mariana Gonzalez, especialista em investimentos e coordenadora do curso Investindo do Zero no ISAE Escola de Negócios, essa mudança cultural se deve, principalmente, a grande queda que a taxa de juros SELIC vem sofrendo. “Os chamados órfãos do CDI perderam o conforto da alta rentabilidade na renda fixa com a SELIC em queda livre e resolveram desbravar o mundo oscilante da renda variável afim de buscar maiores retornos para seus investimentos. Eles tinham recém-chegado para a “festa do Ibosvespa” e foram surpreendidos com alarme de incêndio”, explica ela.
A forte queda do índice devido à pandemia da COVID19 gerou um grande pânico geral. Muitos investidores inexperientes não suportaram o impacto negativo em suas carteiras e realizaram o prejuízo. E para os corajosos que ficaram, o que fazer? Se você ainda não saiu vendendo tudo a preço de banana, agora mais do que nunca é preciso ter cautela, pois a cada dia a neblina está baixando e deixando evidente qual é a real situação.
Neste momento, é indicado fazer uma análise criteriosa da sua carteira e considerar trocar os ativos duvidosos por aqueles de companhias mais promissoras para a retomada da economia. “Com a neblina baixando (menos volatilidade), volta a ficar interessante construir as estratégias de proteção da carteira. Para essas estratégias, é necessário estudar o veículo a ser utilizado, como dólar, ouro e índice futuro, e suas combinações, para que realmente sejam eficazes e cumpram seu papel”, aponta Gonzalez.
Com a democratização dos investimentos, a diversificação global está cada vez mais acessível ao investidor, independentemente do seu tamanho. Sendo o Brasil 2% do PIB mundial, nosso consumo altamente atrelado a marcas estrangeiras, faz todo o sentido ter posições globais na carteira. Contudo, existe um equívoco em pesar que no cenário de juros baixos de hoje, somente a renda variável pode dar retornos superiores à taxa de juros.
A especialista aponta a existência de uma infinidade de CDBs e títulos públicos prefixados e atrelados à inflação com bons rendimentos e vencimentos mais longos. “Sempre seremos impactados pelos ruídos de curto prazo. Mas eles são isso, ruídos de curto prazo que possuem pouquíssimo ou nenhum impacto no pano de fundo, nos bastidores”, explica. “Os incentivos realizados pelos Bancos Centrais no mundo inteiro estão tendo seus efeitos percebidos diariamente”, complementa a especialista.