Os diferentes sensores instalados nos veículos são capazes de produzir 25 gigabytes de dados por hora. Modelos conectados a internet armazenam informações sobre os locais por onde o motorista passou
Apesar do discurso oficial de que o Facebook é uma rede social que respeita a privacidade dos mais de 2,3 bilhões de usuários, investigações conduzidas em diferentes países apresentam uma realidade bem distinta.
Nesta quarta-feira (18), um jornalista do site The Hill revelou que os senadores norte-americanos Chris Coons e Josh Hawley receberam uma carta do Facebook no último dia 12 afirmando que a empresa rastreia a localização dos usuários em seu aplicativo.
O fato mais grave, de acordo com as informações obtidas pelos congressistas dos Estados Unidos, é que a rede social é capaz de obter os dados de geolocalização mesmo quando a permissão não é concedida pelo usuário.
Para isso, a empresa fundada por Mark Zuckerberg obtém os dados a partir de diferentes fontes, como o Instagram, o Messenger e o WhatsApp (todos esses serviços pertencem ao Facebook).
Se o smartphone é capaz de armazenar suas informações mais íntimas, saiba que o seu carro também conhece boa parte de seus hábitos e caminhos.
E não estamos falando de modo figurativo. Em reportagem publicada no jornal norte-americano The Washinton Post, o colunista Geoffrey Fowler contou como hackeou um Chevrolet fabricado no ano de 2017 para descobrir os dados produzidos pelo veículo.
Para a surpresa do jornalista, o sistema eletrônico do automóvel não fica muito atrás do Facebook quando o quesito é o acesso à privacidade das informações.
Ao acessar a central multimídia com o auxílio de um notebook, um chip especial e um software capaz de extrair as informações, foi possível verificar todos os destinos percorridos com o carro, a lista completa de ligações e até os detalhes do estilo de direção do motorista, como a frequência e a intensidade das acelerações e das pisadas no freio.
Hackear um veículo não é tarefa fácil. Para que isso fosse possível, o colunista do The Washington Post contou com o auxílio de um engenheiro que trabalha em uma empresa responsável por reconstruir acidentes automotivos.
É necessário abrir o painel interno para acessar a central multimídia, que concentra boa parte dos dados coletados pelos diversos sensores que equipam um veículo moderno.
Não é exagero afirmar que um carro vendido atualmente é um verdadeiro computador: em média, 25 gigabytes de informações são produzidas a cada hora quando o automóvel está em movimento.
Quando há conexão com a internet, esses modelos podem enviar relatórios atualizados para as montadoras. Sob a justificativa da segurança, as empresas também recebem diferentes informações a respeito da maneira como um motorista conduz o seu carro.
O problema é que ainda não há leis consolidadas para regular essa questão. Em tese, os dados armazenados em um veículo não pertencem ao motorista, mas ao fabricante — e, ao contrário de serviços como o Facebook, Instagram ou WhatsApp, não é possível solicitar o download das informações coletadas.
Quando questionados, os porta-vozes das montadoras afirmam que o conjunto de dados é de natureza técnica e é utilizado para melhorar a segurança e ajudar no desenvolvimento de produtos e serviços.
Para os especialistas em segurança digital, a possibilidade de um criminoso acessar informações sensíveis a partir dos dados coletados no carro ainda é baixa. O problema ocorrerá quando as redes 5G estiverem consolidadas: capaz de transmistir informações a uma velocidade até 20 vezes superior às redes 4G atuais, a nova geração de internet móvel será capaz de promover uma pequena revolução para a mobilidade.
Além de permitir que dispositivos móveis se conectem a diferentes utensílios da vida cotidiana (como eletrodomésticos e outros itens residenciais), o 5G possibilitará que os automóveis recebam e enviem informações de modo quase instantâneo.
O problema é que tal comunicação também possibilitará uma exposição maior de dados, com possíveis brechas de segurança dos sistemas
Enquanto tais recursos (e riscos) ainda não estão plenamente desenvolvidos, é possível tomar alguns cuidados com as informações que já são obtidas atualmente.
De acordo com os profissionais de segurança da informação, é recomendável que o motorista peça uma “formatação” na hora de vender o veículo, para que os dados coletados na central multimídia não possam ser acessados pelo futuro dono.