
Há mais de dez anos, empresas não tiram ônibus de circulação quando completam dez anos, como previa inicialmente o contrato
O ônibus que ficou sem freio e causou um acidente com morte na esquina da Arthur Bernardes com a Iguaçu, na Vila Izabel, deveria ter sido retirado de circulação há mais de quatro anos. O veículo entrou na frota do transporte coletivo de Curitiba em 2010 e deveria ter saído de linha em 2020, uma vez que a vida útil dos ônibus na cidade sempre foi de dez anos. No entanto, desde 2013 as empresas da cidade começaram a não cumprir com a cláusula que prevê a renovação da frota, e ônibus acima da idade limite começaram a ser usados com frequência.
A colisão causada pelo ônibus de prefixo JC-308 aconteceu nesta sexta-feira (13) quando o veículo ficou sem freio e atingiu dez carros parados num semáforo. Num deles estava Marcos Lazario, empresário de 49 anos que morreu presos às ferragens do seu carro. A Urbs, responsável pelo transporte coletivo de Curitiba, emitiu uma nota dizendo que o ônibus havia passado por inspeção e que “a manutenção dos veículos é atribuição das operadoras do sistema”.
“O ônibus fez a última inspeção em 8/11, quando foi atestado o pleno funcionamento. O selo de validade do veículo vale até 5/4/25. A Urbs prestará apoio às autoridades para colaborar na investigação do ocorrido”, afirma a nota da Urbs. A Expresso Azul, proprietária do ônibus e responsável pela sua operação, também disse em nota que “reafirma seu compromisso com a segurança e a transparência em todos os seus serviços. Neste momento, a prioridade da Expresso Azul é garantir o atendimento às vítimas e prestar a elas o apoio necessário”.Frota defasada
A licitação do transporte coletivo de Curitiba, realizada em 2009, durante a gestão de Beto Richa (PSDB), exigia que as empresas trocassem os ônibus após dez anos de vida útil. No entanto, já em 2013, durante o mandato de Gustavo Fruet (PDT), as empresas foram à Justiça e conseguiram uma liminar para descumprir a cláusula, alegando desequilíbrio econômico financeiro nos contratos.
Quando assumiu a Prefeitura em 2017, Rafael Greca (PSD) afirmou que o reajuste da tarifa, na época elevada para R$ 4,25, permitiria que os empresários renovassem a frota e os ônibus antigos deixassem de ser usados. Na época, reportagem de João Guilherme Frey publicada pela Gazeta do Povo mostrou que havia mais de 500 ônibus com mais de dez anos de uso em circulação na cidade.Durante os dois mandatos de Greca, a Prefeitura afirma ter renovado quase dois terços da frota, com a aquisição de 730 ônibus. Um dia antes do acidente com morte na Vila Izabel, o prefeito anunciou com festa a entrega de mais 17 veículos no Tatuquara. No entanto, com a demora na compra, mais ônibus foram tendo sua vida útil expirada. Em 2020, no mês em que Greca conseguiu sua reeleição, foi a vez de o JC-308 encerrar seus dez anos iniciais de trabalho. No entanto, ao contrário do que devia ocorrer, o ônibus não saiu de circulação.
Problema identificado
No início do mandato de Greca em 2017, a Setransp, que representa as empresas de transporte coletivo da cidade, afirmava que, embora os ônibus estivessem defasados, não haveria problemas de segurança. Os veículos, ao passar de seus dez anos iniciais de circulação, passavam de duas para quatro inspeções anuais.No caso do JC-308, não se sabe se a última inspeção identificou algum problema. No entanto, houve um aviso de que o ônibus não estava funcionando adequadamente no próprio dia do acidente. emQuando circulava pelo Centro no início da manhã, segundo nota da Urbs, o veículo “apresentou falha mecânica e interrompeu o itinerário por volta das 8h na Praça Rui Barbosa, ponto de início e final do itinerário. Seguindo o protocolo previsto no contrato de concessão, a equipe de manutenção da Expresso Azul, da empresa operadora da linha, foi chamada pelo motorista. Foi realizada uma avaliação no local que determinou que o veículo deveria ficar fora de operação e seguir para a garagem, sem a necessidade de caminhão guincho”.Pouco tempo depois, o ônibus não freou mais.
O motorista tentou alertar os carros à frente buzinando, mas como o semáforo estava fechado, ninguém conseguiu sair a tempo, e a colisão foi inevitável.